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quinta-feira, 10 de março de 2011

O LANTERNEIRO

quarta-feira, 2 de março de 2011

EM SUSPENSO



Numa tarde ensolarada e quente de setembro, no ano de 1983, um casal de sitiantes voltava para a roça numa das estradas que cortam são thomé das letras rumo à conceição do rio verde.

O corcel branco sacolejava pela estrada arenosa, quando após ter passado por uma area de mata que se fechava em galhos acima do caminho, a passageira sentiu uma vontade violenta de urinar . Foi junto a um recém formado cafezal que o carro parou; a senhora que na época contava com quarenta anos de idade sendo mãe de oito filhos, nao pode deixar de comentar ao esposo, ao voltar : Parece que estou com um monte de bichos mordendo por dentro da minha barriga! Dói muito, e olhe como ela esta estufando!

Este fato aparentemente comum, mudaria radicalmente a vida daquelas pessoas e seria um tormento por dezoito longos anos, em busca de uma solução! Anos aqueles em que a senhora nao mais sse levantou da cama, sendo constantemente invadida por vozes e palavras desconhecidas pelos que presenciavam os poucos momentos de vivacidade em que ela encarnava, para logo então, retornar ao seu torpor moribundo.

Apesar dos parcos recursos de que o chefe daquela família dispunha,todos os possíveis exames clinicos foram feitos da cabeça aos pés da esposa e nenhuma disfunção foi constatada em nenhum dos membros do corpo.
Um ritual diário se passava dentro daquele comodo; fato nao revelado aos médicos que consultaram a enferma. Foi so no ano de 2001 que os familiares resolveram relatar detalhes do que ocorria naquele dormitório de portas fechadas, à uma jovem benzedeira que se fazia notar por ter aliviado pessoas da região, de várias moléstias.
Os recursos utilizados por esta jovem eram os mais variados; a cada paciente um tratamento oposto ao anterior, estando porém a base do seu fundamento, na utilização de pétalas de rosa branca.

O primeiro encontro foi sem grande intimidade; mais um reconhecimento de território para em seguida atuar com os apetrechos corretos, ao estranho caso . A jovem paranormal aceitou o desafio, mesmo que fosse apenas para decifrar o que era falado pela enferma que parecia suspensa do mundo por dezoito longos anos. Nessa época a enferma nao parecia ter mais do que trinta anos; a pele mantinha-se rosada cheirando a lavanda e os cabelos soltos, continuavam negros como eram no passado. Apenas os pés apresentavam uma inclinação para dentro, que se deu naquela tarde em que voltavam ao sítio .

Após ter passado por um dos mais renomados neurologistas da cidade de pouso alegre que indicara um bom psiquiatra para fazer com que a senhora falasse alguma coisa, nada resolvendo, até mesmo pais-de-santo foram consultados no decorrer dos anos, sem tambem esclarecerem aquele estado semi letárgico da mulher.

A Família tinha o costume de se reunir num cômodo externo da casa onde às 18 horas deixavam seus afazeres domésticos para participar da ave-maria, que o velho radio transmitia fielmente todas as tardes. Nessa hora, a jovem benzedeira preferiu permanecer no recinto da enferma para constatar o que lhe haviam comunicado tantas vezes:
A mulher se deitava de costas e ficava olhando para o teto com os olhos semi-cerrados. Em dado momento, esticava o braço direito para abrir uma gaveta do criado-mudo de onde retirava um espelho de mão, olhando-o fixamente para falar e falar por longo tempo; numa língua desconhecida até então, pela observadora. Ao término daquele monólogo sinistro, a benzedeira jogou algumas pétalas de rosa sobre o leito, fez uma oração em silencio e retirou-se do aposento . Por hora aquela cena era suficiente para ser pesquisada nos anais do Mundo Astral.

Quatro meses se passaram até que houvesse um segundo encontro; mas daquela vez havia mais uma pessoa no recinto com um pequeno gravador de bolso, para registrar a tal línguagem. Era um ex seminarista de mente bem aberta, que se prontificou em auxiliar no que pudesse, incrementando assim, os dons naturais da jovem benzedeira .

Ambos se entenderam de imediato e dalí nasceria uma amizade duradoura por muitos anos; um aprenderia com o outro sem qualquer preconceito . Atrás da porta em prece, quatro membros da família sentiam que daquele confronto trino, respostas viriam à tona; seria uma questão de tempo e de paciencia .

Quando o seminarista fez a pergunta : - Com quem estamos falando ?! ...

Nao houve resposta da enferma que se mostrava arredia, mexendo-se na cama como se estive incomodada . Com os olhos cerrados permaneceu e não pegou o espelho ! Foi então num impulso, que a jovem se dirigiu proxima ao leito e fitou aquele rosto pálido quase inexpressivo; tocou-lhe suavemente na testa e pediu que lhes dissesse qual o seu Nome e de onde Vinha . Lentamente ela abriu os olhos e cravou-os no teto, e esticando o braço, pegou o objeto ritualístico de sempre, respondendo na maior naturalidade :

- Numele est marie lascaux. sunt un novice la preotie! ... Vino din orasul marsília, ne am oprit în orasul-port du san sebastian du rio de janeiro pentru a mergela manastirea saint patrick lacurile din dealurile de vitã de vie!

- Onde voce está ?

- Nu stiu ... cred rãtãcisem in padure .

Porque voce nao responde em portugues? Perguntou o seminarista, que aos poucos se aproximava do espelho para dar uma olhada.

- Nu stiu !

- O que voce quer com essa pessoa que esta de cama ?

- Vrei sa afli enfant; il est sub mea responsabilite et pietre si a fugit pãnã cãnd am fost attacked'm ...foarte fricã ! Ei sunt rai iar ugly ...Ajutorul lui Dumnezeu din sua ! Colorat bãrbati gudron... gudron.

Ao seminarista era obvio que a lingua era eslava e com o auxilio de um bom linguista, nao demorariam a traduzir aquelas palavras. No proximo encontro, "ela" teria de responder em latim ou mesmo num frances bem escolar,,, se é que estivesse mesmo "possuída" por alguma inteligencia externa. Para ambos um fato era real: só diante do espelho ela falava e nunca desviava os olhos do mesmo . Seria aquela antiga peça, a responsavel por toda a encenação ? Teriam de pesquisar detalhes da vida privada daquela familia.

Os experimentadores só voltaram a se reunir quatro semanas após aquela primeira sessão. Naquela altura ja haviam decifrado o idioma, sendo o ¨romeno¨; um caso unico na região que quase foi parar nos jornais regionais, se a familia não agisse com rapidez para despistar os vizinhos que andavam atentos quanto aquele casal que de tempos em tempos, aparecia e permanecia por horas recluso na residencia - nesta época estavam numa casa proxima ao centro bancario de conceição do rio verde . Chegaram mesmo a insinuar que a enferma passava por sucessivas sessões de exorcismo; pois alguns ainda traziam na memória o chocante filme da obra de william blatt que em 1976 abalara os conceitos de muitos religiosos no mundo.

A jovem benzedeira tinha decidido que desta vez, retiraria o espelho das mãos da senhora para tentar se comunicar com o ¨Ser¨ que utilizava o espelho como um portal, vindo até este mundo. Para o ex seminarista, grande parte do disturbio devia-se a uma revolta inconsciente da enferma pela dificil vida que levara para sustentar todos aqueles filhos em eras atrás; havia sim uma distorção de personalidade que se comunicava noutra lingua, para chamar a atenção sobre sí, mas nao teria nada de possessão !

Como de costume, alguns familiares ligaram o velho radio para acompanharem a ave-maria. Por volta das 18:20 horas o casal entrou no dormitório; a enferma ja estava a falar e parecia nao notar os recém-chegados . O ex seminarista iniciou então um audível pater-noster no mais puro latim . Risos espalhafatosos fizeram-se ecoar pela garganta da senhora, que então ... começou a falar em italiano. Parecia querer provocar o seminarista ! Em meio àquele duelo, em passos cadenciados a jovem contornou a cama e puxou para sí o espelho, olhando-o fixamente até que pode vislumbrar uma imagem ainda disforme que se assemelhava a uma mulher; Sim, aquele espelho tinha algumas respostas e ela nao o devolveria mais!

Como se tivesse levado um choque elétrico, a enferma emudeceu completamente com um semblante indefeso, diante do ¨roubo¨ do seu objeto de poder! De posse deste, a jovem perguntou: - Marie lascaux, de que voce precisa para deixar em paz a senhora ... ?
A pergunta foi feita por quatro vezes, sem nunhuma resposta, até que pela porta adentro surgiu o esposo apavorado, que chamado momentos antes pelos parentes, tivera uma experiencia indescritível, ao ouvir a voz da esposa falando em portugues, através do velho rádio.

Tinha havido uma Transposição de Portal, segundo a vidente, que para lá tinha corrido sem deixar o espelho de lado. A resposta era audível pelas ondas radiofonicas, que todos ouviam em silencio. Assim Marie declarava :
- Quando os quilombolas atacaram nossa pequena comitiva, eu e mais o garoto Giancarlo, corremos até as pedras mais altas e foi numa das fissuras, que prendi minhas pernas; ele por ser mais rápido correu ao outro lado e gritava por ter caído sobre um enorme formigueiro. Eu nao podia socorre-lo, e o som dos tiros abafaram nossos gritos! Aos poucos comecei a sentir meu corpo congelando e a noite caiu sobre mim; apenas escuridão e nenhum som vinha de parte alguma.

- Como podemos te ajudar, Marie ? Perguntou a vidente olhando para o espelho, que apresentava uma nevoa fria por toda a superfície de cristal.

- Achem Giancarlo e levem-no até o mosteiro de sao patrício; eu estou bem e posso esperar voces me socorrerem! Ele esta sob minha guarda e é filho do monselhor de turim; precisa estar a salvo até que seu pai fique livre das perseguições ... !

- Faremos isso Marie Lascaux, lhe prometo !

- Merci mademoiselle ... maintenant je suis tranquille.

O Rádio voltou à sua programação normal com aquele chiado e misto de vozes vindas das estações vizinhas.

Á família ficou a tarefa de tentar achar o local onde ha quase vinte anos, o casal parou o carro nas proximidades de são thomé das letras. Uma missão quase impossível visto que a paisagem e as trilhas se modificaram com o passar do tempo.

Ao ex seminarista caberia a função de pesquisar nos relatos historicos, entre mosteiros e ordens jesuíticas, se havia uma criança filho de um monsenhor italiano, que a caminho de caxambu, nunca chegara ao destino; tambem sobre essa freira de nome frances.
Quanto à vidente, desde já, ficara a função de encaminhar Marie ao Outro Lado, pois era óbvio que ela nao tinha consciencia de sua morte ha mais de um século. O tempo que levariam era impreciso, mas deveriam o quanto antes trazer de volta ao mundo real, aquela senhora acamada sem contato com os seus bem-amados, o mais breve possível.

CONTINUA .....













sábado, 26 de fevereiro de 2011

ELES POUSARAM...POR LÁ !



- 13 De Novembro - 2010 - São Thomé Das Letras - MG - Brasil

O fato deu-se após um ¨não explicado¨ blackout no município as 21:12 hs.
A chave de captação elétrica da torre estava ABAIXADA, segundo tecnicos que estiveram no local para sanar o problema; os quais nao puderam explicar como deu-se tal desligamento uma vez que ninguem, exceto eles mesmos, conheciam o código digital da estação.

Naquela noite - véspera de um feriado - havia muita musica e vozes no alto do cruzeiro, como de praxe, onde a cacofonia criada por alguns redutos noturnos esbanjavam suas caixas acústicas sem o menor decôro!
Havia turistas circulando pelo parque rochoso, como tambem pela área central. Por uma razão não convencional, de repente nenhum som fez-se ouvir, enquanto uma névoa avermelhada descia, velando espessamente o município.
O escuro aliado ao silencio, quando até mesmo os cães silenciaram, foram testemunhas auditivas do som de aviões-caça que sobrevoavam a região num ritmo acelerado.

Em terra, próximos a uma das entradas do município onde um campo extrativista repousa ha anos, alguns turistas observavam no céu, quatro capsulas metálicas num baixo e silencioso voo, quase a tocar alguns telhados. Aqueles aparelhos apresentavam uma baixa luminosidade e não exibiam som algum. O tamanho dos mesmos nao excedia os dez metros em diametro. Pareciam estar procurando um local para pouso ou esconderijo, segundo os mais ¨sensitivos¨ dos observadores. Fotos foram feitas; poucas deixaram-se registrar nas máquinas e telefones móveis dos felizardos.

Houve apenas uma testemunha,nativa, que observou e fotografou uma das capsulas, proxima de sua casa que mostrava a fuselagem amassada,com uma luz por baixo da mesma que se definhava lentamente antes de tornar-se invisivel, diante dos olhos do jovem! Esse aparelho ou máquina estava acima do poste de luz da rua .

No decorrer da semana, uma teoria circulou por entre os poucos moradores locais que observaram as luzes. Perguntava-se se aquelas máquinas não estariam etiquetando pessoas em grande número ou recolhendo mostras de dna de todos ! Para tal suspeita, fora um fato, dado dois dias depois do avistamento no céu, que levou alguns a pensar até numa ¨Operação¨ entre governantes e aliens .

Na manha de 16 de novembro por volta das 05:46 hs. alguns trabalhadores rurais ficaram boquiabertos com a visão que tiveram de um cortejo, com o qual cruzaram na estrada, quando iam para mais um dia de colheita nos cafezais, em fazenda proxima ao pico do gavião. Esses trabalhadores estavam dentro de um onibus fretado; o qual foi parado para dar passagem a um pelotão que caminhava na frente e na dianteira de caminhões ostentando bandeirinhas vermelhas e que deixavam aparecer sem cerimonia, a metade do corpo, do que parecia serem foguetes, pintados de negro com as pontas em rubro. Seriam mísseis ? Para onde estariam conduzindo tal artilharia ? Aquela operação estaria acontecendo em outros pontos tambem do país ?

Desnecessário é dizer que passeios posteriores, por todo o pico, estão impedidos tanto para turistas como para nativos; nem mesmo fazer fotos ou meditar no pouco frequentado cemitério esotérico, tornou-se possivel!

Há quem afirme categóricamente: ¨Eles pousaram e continuam por lᨠ!







sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

TREZE BADALADAS





Foi também na província das minas gerais no segundo reinado, por volta de 1842 ou 43, que nas imediações do arraial de são thomé das letras deu-se tal estoria .

Um grupo de tropeiros após uma farta refeição, preparava-se para dormir nas cercanias da toca furada quando foram pegos de assalto por um grupo de escravos fujões que ansiavam por víveres e trajes para que continuassem em fuga. Esta tropa vinha de barbacena serpenteando a estrada real, com destino ao palácio de petrópolis, onde um fidalgo português prestes a retornar à lisboa, aguardava impacientemente certa mercadoria que o faria respeitado nas cortes européias novamente.

As manufaturas inglesas no porto da cidade de são sebastião do rio de janeiro naquele período, eram excessivas; as tropas iam em busca de gomas, resinas, alcatrão, cerâmicas, ferragens, chapéus, veludos, linhos, sedas e cordoalhas que, aguardavam expostos ao sol e chuva, tamanha a quantidade, seus futuros lares nos confins do brasil . Tambem levavam  alguns produtos exóticos do interior, para venda ou troca, segundo as exigências dos senhores de terras.  O tabaco que saía do brasil em troca de escravos, ha muito estava em baixa e poucos supunham que os ingleses, finalmente poriam um fim ao tráfico de negros, oficialmente em 1850, deixando perplexa, a maioria da sociedade brasileira de então.  Era um tempo difícil; as estradas não eram seguras e mesmo tropas pequenas como aquela, com dez homens e catorze muares, não estavam livres de ataques repentinos a qualquer hora da jornada.

Em meio às peças de fibras naturais, aves, peles, gamelas, peanhas e anjinhos talhados em jacarandá, sementes, frutos secos e gemas semi preciosas que desceriam ate petrópolis primeiramente, um dos tropeiros de nome gerard - apelidado de o Corso - trazia duas carcaças de jabuti, de considerável peso ! Elas estavam recheadas por diamantes de brilho indescritível . O massacre ocorreu numa quarta-feira de cinzas antes das doze badaladas da meia-noite .  Do arraial, alguns moradores distinguiram o disparo de tiros que mesmo abafado pela forte ventania, lhes chegava aos ouvidos .  Não ousavam caminhar pelas ruas escuras, pois os lampiões ja se haviam apagado horas atras, mas olhavam pelas frestas dos janelões guarnecidos por travas maciças, na esperança de ver alguma coisa; apenas uma bruxuleante claridade aparecia vez ou outra no alto da colina, na misteriosa toca furada . Quem estaria fazendo fogo por lá ? Gente decente não andaria àquelas altas horas a caçar ! Melhor seria esperar pelo nascer do sol quando então alguns homens subiriam as rochas para por fim àqueles sons que pareciam gemidos.

Dos dez tropeiros atacados com pedaços de pau, ferro e facões, apenas um sobreviveu; ainda que por pouco tempo . Quanto porem ao conteúdo dos jabutis, só mesmo quando no leito de morte é que ele revelou a sua então *sinhama* enfermeira chamada tulia, que pertencia à família do capelão, onde fora levado em meio aos corpos dos companheiros massacrados na toca furada. O arraial ficou tão preocupado com o tal ataque dos aquilombados, que resolveu usar o sino da igreja matriz como alarme, soando 13 vezes, caso os vigias avistassem sinal de movimento anormal nos vales ou cercanias. A torre estaria por 24 horas servindo como base de observação; mesmo de noite, quando todo o arraial passaria então a manter latões acesos com alcatrão e querosene, em pontos estratégicos .

Tulia, apesar da idade avançada de trinta e poucos anos, era um dos mais belos exemplares do continente africano, descendia da raça felanim ;uma figura que poderia ser notada como clássica em meio aos outros escravos que viviam no arraial . O matiz da pele era azeitonado, os traços fisionômicos harmoniosos, o andar vagaroso e discreto; trajava-se com xitão e pano da costa na cintura e sobre os ombros esquálidos, tendo como único adereço, uma teceba de sementes brancas que ganhara da falecida tia, única parente já falecida, trazido da serra leoa como amuleto que os fetichistas usavam para se fazerem * invisíveis * diante dos inimigos .

Quanto ao carregamento, muito foi destruído pelos atacantes que mexeram desordenadamente atirando o que vinha à tona sem o menor cuidado. Algumas canastras puderam ser conduzidas ao porão da igreja matriz ate que fossem reclamadas pelos legítimos donos . Os jabutís recheados permaneciam envoltos num balaio de palha cobertos por ceroulas desgastadas e de cor incerta; lembrança da côrte francesa onde o corso servira como lacaio num chatelet ... antes que decidisse vagar e fazer fortuna no novo mundo .

Os corpos dos colegas foram transportados a uma sepultura coletiva, pois o tempo exigia rapidez antes que os roedores começassem a profanar os corpos expostos .
O sobrevivente permanecia sob os cuidados da “sinhama “ tulia ; ora delirando ora falando sobre sua vida familiar ha muito deixada no continente europeu . Dissera que seu irmao, chamado jean claude, nao tardaria a procurar pela tropa e que ao passar pelo arraial, desse um jeito de comunicar ao forasteiro sobre os jabutís, que o mais cedo possível ,deveriam sair da igreja e ficar sob a guarda da escrava . Naturalmente que tulia seria agraciada com algumas pedrinhas para então tornar-se livre e podendo ate viver na côrte, se quisesse . Era tentadora tal possibilidade mas desde o início o risco seria grande; na quela igreja, apenas os brancos tinham acesso para comungar com o Divino e mesmo para fazer a limpeza diária dos recintos, havia um capataz a observar os braços e pernas dos serviçais do alto da nave barroca . Havia sim, outra igrejinha no arraial, dedicada a nossa senhora do rosário onde os escravos podiam frequentar, mas isso se dava duas ou tres vezes ao ano quando precisassem de um corretivo moral ou para batizar seus descendentes. Algumas crianças desses escravos, tal qual os filhos dos sinhõs, se vestiam nas cores branco e azul até os doze anos de idade, em homenagem á virgem maria . Todos deveriam ser batizados- brancos ou negros - e enquanto aguardavam pela data, deveriam dormir sob a luz de uma candeia acesa todas as noites, pois poderiam ser vitmados pela " bruxa ou lobisomem a chupar-lhes o sangue ".

Continua...





segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

PATAS DE VELUDO




No início dos anos 60, um jovem casal adquiriu um terreno numa  área rural que pertencia a um professor local. Onde  antes fora uma palhoça, pedaços em bom estado de madeira de lei foram reutilizados para construir o novo lar; o solo nao era dos melhores, mas o básico para alimentar do casal, era possivel com hortaliças. No sexto ano, o casal ja tinha se estabelecido definitivamente; tinham como companhia um casal de filhos muito saudáveis.

Numa tranquila tarde, como tantas vivenciadas em meio àquela natureza verdejante, eis que surge pulando pela janela da cozinha ... uma linda gata branca .  A recém-chegada intrusa logo se alojou sob a cama do filho mais velho como se ja conhecesse o caminho ha tempos; ronronou, acariciou as pernas das crianças e tirou um cochilo sobre o tapetinho de fuxicos com a cabeça repousada num par das botinas do garoto.

Os dias se passaram sem grandes acontecimentos; a filha menor, carregava a gata pra cima e pra baixo da casa como se ela fosse uma boneca de pano, mostrando-se sempre meiga e graciosa com a menina. Um fato vinha deixando a mãe dos garotos meia intrigada com aquele animal, que em hipótese alguma, comia ou bebia o que quer que lhe fosse oferecido. Nem mesmo quando as panelas repousavam no rabo do fogão para esfriar, a gata dava atenção aos odores convidativos das carnes ou molhos, vindos de lá.
Na terceira semana da chegada da gata, então chamada babuxa, o filho do casal adoeceu repentinamente e nenhum remédio caseiro fazia com que seu apetite e sono voltassem ao normal .

O estado de saude do menino chegou a um ponto em que a mãe resolveu leva-lo para um check-up à cidade de baependi, onde na casa do tio, ele poderia ficar caso fosse necessário. Toda a familia subiu ao arraial para contratar o unico motorista e carro existentes; uma dkv roxa com assentos cor-de-mel, que parecia desparafusada por tanto rodar  naquelas trilhas irregulares, cheias de galhos e pedras roliças que acarpetavam  qualquer direção. Naquela manha, ouviram a gata miando sobre a porteira quando se distanciavam, olhando de vez ou outra para tras .
 Após cinco dias distantes do lar, as crianças percorreram as poucas casas das roças vizinhas com o intento de saber se tinham visto a ingrata babuxa que desaparecera por completo. Ninguem tinha jamais presenciado tal gata branca nas campinas ou trilhas da região.

Logo no início da quaresma, a dona da casa sentia ao se deitar, que um peso com quatro patas subia sobre seu ventre e alí ficava por longo tempo; muitas vezes acordava o marido e juntos olhavam por todo o lado pra descobrirem se realmente algum bicho se escondia no recinto. Passaram a dormir com duas lamparinas acesas todas as noites e, nem mesmo essas chamas bruxuleantes afastaram tal criatura invisivel do leito. O mal-estar tomou conta daquela senhora que pelas manhas passou a sentir que olhos ocultos lhe vigiavam os passos por toda a casa. Iniciou-se naquele período, batidas frequentes do lado de fora do dormitório das crianças após o por-do-sol e o mais estranho fato foi que a garotinha várias vezes via uma mulher baixinha de cabelo alto e arrepiado, correndo a se esconder por trás do mancebo onde seus vestidos de passeio ficavam expostos. Os pais chegaram a castigar a garotinha ameaçando-a  sempre em tranca-la no paiol se continuasse a dizer mentiras como aquela. A menina sentia falta da gatinha babuxa e ficava longo tempo debruçada numa das janelas tentando enxergar algum movimento branco e ligeiro correndo pelas cercanias .

No final da quaresma daquele ano que se deu em 06 de junho de 1966 - após longo jejum de carnes - o casal estava destrinchando um frango sobre a mesa da cozinha quando num piscar de olhos entrou pela  " janela fechada ", a gata branca .  Ela correu em direção ao dormitório das crianças e miou por seis vezes; logo após, uma gargalhada de mulher foi ouvida . Vasculharam os recintos palmo a palmo e nenhum vestígio da gata ou de gente, foi achado.
Após esse fato, o pai e a filha adoeceram, ficando acamados e febrís por dias.

No mes de agosto, por duas vezes, pessoas que passavam pela estrada correram em direção aos moradores, para saber se tinham conseguido escapar do fogo!  Labaredas eram vistas saindo do telhado durante a noite. A familia por uma vez apenas, presenciou tal aparição; parecia uma dança frenética de salamandras com mais de dois metros de altura. Assim como surgiam, desapareciam sem deixar marcas de combustão nas telhas.

Alguns moradores mais antigos da zona rural, aconselharam o casal a sair daquela terra, pois o antigo morador tinha fama de praticante de artes diabólicas. O mesmo era apontado como responsavel pelo desaparecimento de algumas criancinhas ha décadas atras; nunca provaram mas muitos afirmavam tal maldade.

Em janeiro de 1967, a família e alguns vizinhos preparavam um almoço para vinte pessoas ; era o final da folia de reis. Haveria um encontro de confraternização onde cada senhora trazia dois a tres pratos do melhor quitude a ser degustado durante as cantorias. As mesas improvisadas no terreiro exibiam um colorido e fartura de alimentos como ha muito nao se via naquele vale; todos participaram nos enfeites; crianças e idosos principalmente. Os cantores chegariam por volta das 13 horas com cantigas de bençãos aos presentes que aguardavam impacientemente aquela manifestação religiosa que se perdia nos tempos do brasil-colonia.

De longe ja estavam a ouvir a cantoria; deviam estar atravessando a cachoeira da sá julia - atualmente possui outro nome, que em nada condiz com o local.
Quando o palhaço abriu a porteira dando passagem ao grupo musical, uma saraivada de pedras caiu sobre a casa e o quintal.  Gritos apavorantes ecoaram dalí; quem estava do lado de fora, corria em direção à estrada e quem permanecia dentro da casa, chorava pensando se tratar do fim do mundo.  Louças e panelas foram derrubadas das mesas sem piedade; tudo se perdera num misto de terra, folhas e gravetos.


Por tres dias e noite apenas com a roupa do corpo, a familia permaneceu hospedada numa fazenda de amigos lá nos lados do areado. A partir daquele episódio haviam finalmente decidido deixar a propriedade assim que o esposo voltasse de baependi onde proclamaria a venda da mesma, no cartório de registros local .

Quando voltaram ao lar afim de prepararem a ida do senhor à cidade grande, notaram ainda sobre o chão todos os utensílios e panelas que tinham sido bombardeados pelas pedras, mas nao acharam pedra alguma como prova  real de que fizeram tantos estragos naquela tarde de festa sagrada, profanada por agentes maléficos. Tudo continuava como fora antes; até mesmo os saguís continuavam dependurados sobre as arvores próximas, indiferentes aos vizinhos humanos e barulhentos das roças .

Na ausencia do esposo, a senhora trouxe como companhia, uma jovem muito ativa e esperta, chamada france. Foi esta jovem que testemunhou a visita estranha de um cavaleiro nunca visto  antes nas imediações, que procurava pelo dono da terra, poucos dias após a saída deste dali.  Quando foi abordada pelo sujeito que lhe acenava da porteira , ela correu ao encontro da amiga para que falasse com aquela esquelética figura, vestida de forma tão bizarra sobre um cavalo também magro e visivelmente mal-tratado. Quem seria ?

O forasteiro perguntava se poderia falar com o dono da terra, pois ha muito que procurava por sua filhinha que desaparecera da familia junto com sua gata !
A esposa dissera que o marido estava do outro lado da serra apartando o gado, e que não tinha hora certa de voltar.  Nesse ínterim, france observava detalhadamente aquela figura mal-encarada: um chapéu de pêlo todo sujo de barro, uma camisa com listras vermelhas e pretas, uma calça bege onde uma perna vestia uma bota de cano longo enquanto a outra usava um sapato bicolor sem cadarço. Os dedos e pulsos reluziam com peças de ouro e tambem o tórax mostrava-se coberto por grossas correntes .  O homem cheirava a mirra e incenso, o que fez com que france se lembrasse dos domingos na missa do arraial, quando o oficiante passava com o velho turíbulo em brasa, pela assistencia devota. Mas aquele aroma tão sagrado não combinava com o indivíduo !
A senhora pediu a france para localizar o marido; a garota entendeu que aquele pedido era para que chamasse por algum vizinho, pois ambas sentiam -se inseguras diante daquele homem.

O * cavaleiro dourado * pediu uma caneca de café sem açucar, enquanto aguardaria a chegada do proprietário.
Não tardou para que a senhora voltasse e lhe entregasse cortesmente o líquido fumegante que sempre mantinha aquecido sobre o fogão.

De longe, oculta por tras das taboas do brejinho, france observava toda a cena da porteira, quando deu um grito, ao observar a violencia com que o cavaleiro tratara a senhora . O homem jogou todo o líquido sobre o pé da senhora dizendo :  - Voce é uma mentirosa... ele está é noutro lugar !
Ao dizer isso, o cavalo deu mais um pinote e desapareceu diante  da vista das mulheres .

Tal episódio foi demais para a senhora, que então ficou sem conversar por dias com quem quer que lhe dirigisse a palavra; foi france quem relatou a todos, o que presenciara naquela tarde com a amiga.  Muitos sitiantes foram levar uma  palavra de conforto e segurança ao casal, insistindo em que deveriam se mudar daquele cenário assombroso . As crianças estavam então, morando com os padrinhos no arraial naquela altura dos acontecimentos.  Na verdade a familia estava se desmembrando e os fenomenos ocorriam com maior frequencia agora, fosse dia ou noite.

No arraial, onde carecia de acontecimentos, alguns beatos chegaram mesmo a supor, que a gata branca adotada pelas crianças, era o espírito zombeteiro da velha sá julia, que viveu no vale por décadas .  Dizia-se que a velha tinha guardado dentro de uma cabaça, um diabinho - ou familiá - que lhe atendia pedidos nada cristãos quando invocado !  Algumas crianças ao visita-la um dia, levando biscoitos de polvilho que sá julia apreciava em demasia, localizaram sob o catre ripado por bambus que lhe servia de leito, a tal peça; abriram o tampo de sabugo de milho e... libertaram " sem intenção " ... o capetinha .  A velha, furiosa, correu atras dos traquinas que sabiam ter ganho uma inimiga para sempre ! De nada valeu, pois uma vez solto ... nunca mais o familiá daria sossego nas imediações .

Foi em meados de 68 quando preparavam os ultimos caixotes para deixarem a propriedade definitivamente que a familia, então reunida na sala, ouviu o som de arranhões vindos da janela da cozinha .  A menina foi a primeira a correr em direção ao som, pois reconhecia o autor do barulho; só poderia ser  babuxa ... sua fujona e amada gata branca que a chamava !  Seria mesmo ?

Desta vez a gata nao entrou na casa; olhou a todos e miou tristemente; do olho esquerdo parecia escorrer uma lágrima!  Aquela atitude felina impressionou a familia; abriram a porta e foram ao encontro da gata que caminhava apressadamente, vez ou outra se certificando de que era seguida.
A noite era clara, apesar da lua pálida sendo obscurecida por névoas vindas do brejo, por onde todos caminhavam em direção, solenemente, como se fossem a um féretro .

Babuxa aquietou-se e subiu num galho curvo de jaboticabeira que ladeava as aguas rasas onde outrora correra uma cachoeirinha; alí miou e miou até pular sobre umas pedras e arranhar frenéticamente a superfície das mesmas.
O homem, que sempre carregava um facão ao redor da cintura, adiantou-se ao local e começou a cavar onde a gata havia iniciado; as crianças sem palavra alguma ajudavam a depositar as pedras para longe da cavidade aquosa que pouco a pouco ia se formando. Pareciam saber que dalí sairia a resposta para os anos de assombro e mal-estar naquela propriedade. Estariam certos ? Sim, em parte solucionariam a maldição local.

Em pouco tempo apareceram ossadas misturadas que mal se distinguiam em meio ao lodo e areia; babuxa lambeu uma ponta de osso que parecia ser uma mão infantil; deu um salto de 180 graus e correu para as taboas que se refletiam tenuamente naquele pocinho recém aberto.  Ela nunca mais foi vista em parte alguma daquele vale.

A familia se mudou na manha seguinte, avisando as autoridades locais do tal achado . Após um detalhado exame se constatou tratar-se de uma antiga ossada  infantil - não se sabendo a quem pertenceria - junto de ossos de um animal  felino. Transportaram tais restos ao cemitério local e lá, sobre uma singela lápide pode-se ler a seguinte inscrição quase apagada pelo tempo : * Aqui jaz um Anjo que repousa com sua fiel Mascote * .




 


O BERÇO


 
Nos locais remotos deste vasto estado conhecido como minas gerais,tanto os raizeiros quanto as parteiras, desempenham papel fundamental na sociedade . Onde a medicina fosse nula ou ainda desconhecida por muitos,eram esses profissionais da saude que tinham de socorrer os seus semelhantes, a qualquer hora do dia ou  da noite.
Este primeiro Causo que vou contar, com a ajuda de uma senhora de extrema inteligencia e lembrança de fatos dos idos tempos, chamada Rosalina L.Pereira, refere-se a uma parteira que nunca deixava de atender suas suplicantes futuras mães, sem antes colocar dentro do seu bornal, uma pequena e desgastada imagem de Nossa Senhora do bom parto!

Foi por volta de 1915 ou 16 que deu-se um fato neste então arraial ,que abalou a fé e a rotina de seus habitantes.
Uma jovem senhora que nao completara os seus 15 anos de idade, estava grávida. Por sentir extremo mal-estar diante do seu metabolismo, maldizia o ser que gerava sempre que estava longe dos olhos de sua aia . Já, o seu velho e abastado esposo, nao media esforços para agradar aquela futura mãe e ao herdeiro(a) que nasceria literalmente rodeado com o  melhor que o mundo civilizado de então, tivesse a vender. Canastras repletas de tecidos brocados, linho ingles, brinquedos de porcelana, cristais e prataria chegavam de mes em mes do porto da cidade de são sebastião do rio de janeiro trazidas sobre mulas e carros de boi, por tropeiros atraves do unico acesso existente na época para o interior das minas gerais - a estrada real.
Dentre os objetos que chegaram ao casarão, o que mais deixou intrigada a gestante foi o berço de bronze todo aveludado em suas almofadas de pena de ganso que se erguia sobre quatro encaixes servindo como pés, com feições de macacos maliciosos e de aspecto  grotesco. No contexto, a peça parecia ter sido burilada por algum mestre italiano ou frances do melhor atelier europeu . Tal exótico berço logo tornou-se o assunto diário do arraial. Muitos habitantes com a desculpa de trazer frutas ou víveres ao casal, apareciam apos a  ¨Quitanda ¨das quartas-feiras apenas para dar uma espiada no tal mobiliário que se encontrava na entrada do saguão; enquanto que os outros objetos repousavam sossegados no boudoir da senhora, longe dos olhos até mesmo dos criados externos da casa .

Cada vez mais cheia de repulsa e transtorno por aquele seu proeminente ventre, a jovem senhora acompanhada sempre da aia, passava horas a fio caminhando sobre as pedras ao encontro do paço das jaboticabeiras, onde podia tirar os sapatos e descansar confortavelmente sem os laços e cordões que apertavam seu vestido .
Foi numa das tardes em que retornavam, já proximas do poço do querê-bem, que a jovem quase desfaleceu com um fluxo sentido com muita intensidade; a aia apavorada, gritava para que quem estivesse nas imediações acudissem  sem demora .

Dentre as pessoas a acudirem a senhora, a primeira a chegar e tocar na moça, foi uma raizeira e parteira de nome nêga-dos-arcos; tal apelido lhe fora dado porque ela costumava usar algumas argolas de ferro  costuradas ao redor da saia, que ha tempos idos serviram de grilhão à sua mae - a primeira negra fôrra da região que caíra na graça de um fazendeiro local, que na época residia com a familia em baependi, mas religiosamente enviava suprimentos aos familiares da  amante .
Ao tocar por impulso, o ventre da jovem senhora, a velha parteira ficou visivelmente desconcertada ; amarrou a cara e disse sem cerimônia :   -  Essa criança num pode nascê aqui não, vai trazê disgostu e réiva a toda gente decenti do arraiá ! Deus tá zangado com vossuncê ... preciza pará de xingá o anju ! 

A jovem empalideceu e nao disse uma unica palavra.  Nao faltou gente a esse tempo, a correr para perto da gestante com o propósito de ofender e enxotar a parteira. Ameaçaram-na inclusive com chicote se ela não se desculpasse pelas palavras ofensivas à dama da sociedade local . A nêga-dos-arcos não se deixou intimidar e olhando fixamente pra todos em volta, completou sua fala, com a seguinte revelação :
- Essi poço qui mata sede de todus oceis num é lugá pra afogá genti nem animar novinho !  Só em pensá tar coiza, Deus já tá Castigando ... sendo brancu ou pretu, ricu ou pobri ! Foi o Escandalo do ano, tal episódio .  A parteira, para se sentir fora da perseguição  popular, resolveu descer a serra e se alojar numa gruta nos lados do congonhal onde apenas os bichos lhe fariam companhia sincera . Não atenderia a nenhum chamado daquele arraial pelo resto dos seus dias, mesmo que o padre a ameaçasse de excomunhão.

O tempo foi passando e aos poucos o arraial se engajou em outros assuntos mais picantes que ocorriam pela região. Foi numa noite nublada do sétimo mes de gestação que a jovem senhora se viu em apuros, pois seu bebe nasceria prematuramente. Foi a aia acompanhada de duas senhoras vizinhas que serviram de parteiras naquele momento de muita dor acompanhado por gemidos. De repente fez-se um silencio tumular naquele quarto  - apenas viram a aia saindo, tropeçando e chorando pelo jardim  da propriedade.


Atualmente o casarão ainda encontra-se em pé no arraial, que já é um município, e lá reside a ultima descendente daquela familia que ha décadas foi marcada por uma maldicão, segundo dizem, os mais velhos.
O  tal berço encontra-se meio amassado, sem os pés, jogado num canto do quintal consumido por ervas rasteiras e madeira podre como relíquia dos tempos faustos.
Ah sim, o bebe nasceu forte e esperto . A mãe ao contempla-lo deve ter tido um colapso pois morreu com ele nos braços;  e este continuou aconchegado ao corpo que esfriava, a grunhir por frio ou perda da mãe . Naquela noite nascera um macaco naquele corpo de mulher que nao tardou  a sair dependurado pela cumeeira ao encontro da janela aberta, e sumir aos berros, rumo ao paredão.